quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Anotações da palestra do Professor/Doutor Vitor Henrique Paro sobre "Avaliação"

Quando se fala em educação escolar é um problema muito sério, porque não existe ninguém sem culpa. Tem gente que diz "que na prática a teoria é outra". Então não é teoria, porque a verdadeira teoria nasce da prática.
Reprovação Escolar dá a impressão que é uma forma de Avaliar. Por isto sou contra a reprovação, porque reprovação é uma forma de não avaliar.
Para alcançar o fim do meu processo educativo ou de qualquer outro processo ( exemplo : fabricação de um microfone ) eu tenho que permanentemente estar Avaliando o que eu faço , para ver se o caminho que estou percorrendo para alcançar "aquele" fim está certo . Eu tenho que estar constantemente Avaliando.
O sucesso da educação depende de muita coisa: da qualidade do professor, do salário do professor, do conhecimento anterior do aluno, dos pais, da liderança do diretor, mas na hora do fracasso escolar, os professores dizem que o culpado é o ALUNO (somente o ALUNO).
Passar de Ano é bom porque tem o "Reveillon", porque a terra dá a "Volta ao Sol", porque um "Ano Novo" vai começar... Então vamos pensar diferente sobre Aprovação e Reprovação.
Para o senso comum educação é mais ou menos o seguinte: é a passagem do conhecimento de quem sabe para quem não sabe. A partir deste conceito de senso comum, existe um método para passar a educação. O papel do professor é depositar na cabeça do aluno o que ele (professor) acha que deve passar. Essa é a educação que Paulo Freire chamava de educação bancária. É o método tradicional. A função de aprender é delegada ao aluno.
Não existe uma educação que ensina, mas uma educação em que o aluno tem que aprender.
Pois bem, se nós quisermos uma educação de verdade, vamos pensar numa educação que não precisa "reprovar". Uma educação que visa complementar o ser humano. O ser humano é algo um pouco mais complexo. A educação não visa ao homem como um animal racional simplesmente. Falamos no ser humano como uma parte especial da natureza, porque ele não vive simplesmente, ele quer viver. O homem é um ser de valor, é um ser ético. "Ético" quer dizer o domínio de valores.
O Lobo não come o cordeiro porque ele é ruim. O Lobo não sabe o que é bom ou o que é ruim.
O homem sabe o que é bom ou o que é ruim. O homem diz: "_ Isto é bom, eu quero. Neste momento o ser humano deixa de ser apenas necessidade. Ele cria valores. E para criar valores ele estabelece objetivos. Exemplo: "Chegar depressa, sem fazer força". Uma atividade adequada a um fim. Muda a si próprio historicamente.
O homem tem a liberdade entre andar a pé ou a cavalo. É assim que se faz história. Mas a história só é feita pelo homem. Veja que só o homem tem história. Quando eu digo "isto é bom", eu crio um "valor". Fazer isto é ser o sujeito. Isto sintetiza a nossa própria realidade, a nossa própria liberdade. É o ser humano como autor. Isto é construir história. Desejando coisas. O homem histórico não termina na sua corporiedade.
Se vocês pegarem uma espécie animal hoje, esta espécie não tem diferença dela de há dez mil anos atrás. Compare o homem hoje com o homem de há dez mil anos atrás. Hoje o homem não é o mesmo. É uma metamorfose ambulante.
Cada um de nós produz sua existência (indiretamente) sozinho. Precisamos da cultura produzida pelos outros. Precisamos daqueles homens que viviam ainda debaixo das árvores. En-
tão o ser humano é um ser social. Ele é sujeito, ele é plural. Os homens são seres portadores de valores. Ele é político. Ele precisa conviver com outros. Ele pode dominar o outro. Existe uma outra forma de conviver com o outro: dialogando, reforçando sua posição de sujeito. Ele produz
conhecimentos, valores, tecnologias, filosofias,etc. O homem produz tudo aquilo que a natureza
não produz.
Cultura aqui é o nome que nós fizemos com a natureza. A apropriação da cultura nós chamamos "educação". Se nós não conseguíssemos nos apropriar da cultura produzida anteriormente, nós não teríamos saído da caverna.
Esta apropriação da cultura não se transmite com o sangue. O filho do médico não nasce médico. O filho do bandido não nasce bandido. É pela via da educação que nós nos apropriamos
da cultura. Todos nós nascemos com potencialidades infinitas de aprender a tudo, com raras exceções daqueles 0, 0, 0 com algum problema mental.
Vamos raciocinar um pouquinho sobre como deve ser o processo pedagógico da educação.
Não vou dar a forma de fazer, vou falar sobre os princípios. Nós não sonhamos em formar seres humanos históricos pensando no processo pedagógico (atividade de ensinar), produzindo alguém
como processo histórico. Na escola nós temos objeto de trabalho. O objeto de trabalho é o educando. Existe uma regra básica que deve estar adequada aos fins. Isto é o que orienta a avaliação do processo educativo. Se eu quero produzir "ser humano educado", inclui o fato de
que ele é sujeito. Então os meios de alcançar este fim tem que ser coerentes com este fim.
Significa que o educando só aprende se ele for um ser de vontade, que ele só aprende se quiser.
Seria mais óbvio dizer que a escola é boa, tudo bem, mas ele não quis aprender. Passar conhecimento todo mundo passa, até um simples computador. Dizer que a escola é boa, que a educação é boa, mas o educando não aprendeu porque não quis, seria o mesmo que dizer que
a cirurgia foi um sucesso, correu tudo bem, mas o paciente morreu.
Se o educando não quis aprender (porque ele pensa que aprender é chato) nós precisamos mostrar que aprender é bom, que ele precisa aprender a gostar de aprender. Nisto a escola tem competência: de fazer que se o aluno não aprendeu, a culpa é sua. Se é assim, nós precisamos
conhecer melhor esta criança, saber como ela pensa, levá-la a querer aprender.
Aquele ser(a criança) é diferente e precisa de maneiras diferentes de aprender. E o que a escola faz com todo o desenvolvimento da Psicologia de Piaget,de Paulo Freire, etc. ? Há mais
de 70 anos, Piaget falou que a pior forma de passar educação para uma criança, era a forma
de alguém falar e outro ouvir. É uma forma violenta de passar educação.
O que é que nós fazemos para mostrar que o Sistema Educacional está certo? De um modo geral nós REPROVAMOS. Se nós pensamos numa educação de verdade, nós temos que mudar
a educação. Primeiro passo que nós temos que fazer é provar o que queremos FAZER. Eu pro-
picio condições para que fulano se eduque?